quarta-feira, 27 de junho de 2007



O TRIÂNGULO DAS BUGRAS

Geraram-se os miscigenados, criollos, guaxos mamelucos, dos ventres das Guenoas e Mbohanes, Minuanas ou Charruas, exímias na boleadeira. Mas Bah, Las Índias Pampeanas! Terras cantadas por nada mais nada menos do que pessoas tão inacreditáveis como Álvaro de Campos e Ricardo Reis, Don Bagayo y Camoens!!

Em que se plantando, favas contadas, trigo velho, feijão fradinho, tudo daria. Banana caturra, maracujá, o fruto da paixão. E bravas mandiocas, o milho barbudo, a pêra do cavanhaque. As ramas de fumo os fumos de rolo, a fumicultura em corda, o fuminho d’Angola. E pepinos in natura, em conserva, inteiros, em rodela. Pepino do grosso, di Capri, do fino...

Para mais além da longínqua praia ocidental, jardins do Sul deliciariam os lusitanos. Lambuzar-se-iam das maçãs do amor e dos grãos de bico, das bundas de pêra e pêras de luz. Ah, os abacateiros que trariam o fruto de vosso ventre. Teu-amor, teu-coração, e o caroço não se come.

Oh, rios de leite, a correrem sobre peitos de donzelas. E as mais afamadas variantes de jogos: bochas e bolas, bilhar e boliche, gamão e quero truco! As mais variadas modalidades de jogos eróticos. A La Española, à Cubana, bananos verdes fritos de merenda no meio das brincadeiras. Joder, las andaluzas, jovens polacas e batalhões de francesinhas! Uh-lalah, banhando-se nas fontes de sempiterna juventude.

Suas peles de pêssego, maci-inhas da manga rosa, do melão maduro, da cana caiana. E durazno ou melocotón, os peitinhos intumescidos, a batata-da-perna mulata. O catre de campo, os quartos de lua e a lascívia. Nestes cus do diabo donde Judas perdeu as botas.

sábado, 23 de junho de 2007



BANHOS DE LÍNGUA E UM SACO DE GATOS

Seriam as Índias. Cruzes de malta e gajos de boina cruzaram o mar salgado. Remavam as galés, mas nem os pezinhos botavam no mar. Aquém do Bojador, eram índios. Iludi-los com as contas dos colares, as miçangas, os canutilhos...

Cacos coloridos, espelhos quebrados. Bagulhos, bugingas mil. Cristal Cica, o elefantinho mais querido do Brasil. Viria então a catequese. Rezou-se a primeira missa. Foram atos inaugurais e fitinhas cortadas que não se acabam mais...

Os fedorentos estavam a vir-se para comer-cagar-cojer, três cosas que salen la vida. E ansí tudo valia as penas. Empanturraram-se de aves raras, bichos do mato e seus frutos. A flor silvestre e suas frutinhas. Açaí na tigela, pitanga, guabiroba.

E peixes que nunca haviam visto pratear. Botos cor-de-rosa, dourados, grumatãs e lambaris. As surubas e o surubi, sereias e mães d’água. Almas pequenas, foram além da dor de barriga, da desinteria, diarréia, escorbuto, gonorréia, piolho. Como se catavam, não sei se foi a pulga ou seria o percevejo?

Podres de relaxados, não tomavam banho nem se mandados pelos ingleses. Nem por súplicas da Santa Rita Helga ou do Frei José Durindana, do Caramuru. Gatos, larápios; loucos e traficantes —compra casada — era o que havia para enviar.

A bem da verdade, a brava gente lusitana roubava o que podia. Ergueu fortalezas para defender seus interesses, ganhos de grátis e na moleza. Quartos de léguas ao quadrado, ao cubo, ao N... Sesmarias largas e Nadir Figueiredo para os pobres-diabos.

Lusos de Açores, da península, das ilhas Madeira e doquieras, diziam enfrentar o arco e a flecha. Tapes e tacapes. Arachanes y Patos, quiçás os Chanás. E por haverem caminhado sobre as ondas com pés de chumbo, podiam devorar frangos inteiros. Tal e qual Dom João VI, o “Pega-Ouro e Si-Arranca”.

E por terem vencido a ponte instável e prolixa que apartava o Ocidente dos demais, acharam por bem comer as nossas vovozinhas. Merecidos troféus aos desavisados navegantes, em função dos quais, muitos outros vieram.

Suas mães a chorar, os filhos a rezarem, as noivas a ficarem pra titia. Oh, Santo Antoninho de Lisboa, colocá-lo de molho, cabeça para baixo no copo d’água. Esse sim que se banhava.

sábado, 16 de junho de 2007


A MINUANA E O GUARANI

Perguntaram se Ela porventura não seria parenta de Margarette, contudo, não especificaram qual a Margarete. Se for a Moraes, tem parentesco, sim, com a vereadora de Port’Aléri. Uns bons milímetros da mesma pele vermelha dessa edílica, também ex-secretária de cultura. Ambas as primas, vereadora e estancieira, revelam-se aparentadas, em grau longínquo, do contemporâneo proprietário da churrascaria Butecão do Morais.

Desde o fim do século XVIII, os antepassados da Eclética Aleretchiense estavam nesse pedaço de chão, ainda membro do Rio Grande do Sul. Foi até onde se pôde chegar pelo DNA de Jacyra Carió. A índia da pele morena, da boca pequena e da tribo dos Minuanos, nada sabia das fronteiras, mas ouvira falar de uma mesopotâmia, que viria a ficar do lado de lá: Corrientes e Misiones, Entre-Rios y Santa Fé.

Nas bandas de cá das Tordesilhas, esta terra adorada pela indiazinha limitava-se aos caudais do Cuaraim e do Ibirapuitanga, Ibicuhy e Uruguay, sendo, por isso, também Entre-Rios. Graças à virgem Maria, aos bordos e cantos, a santos do céu e a uma pedrada, a coroa portuguesa conquistara os limites ao Norte do Ibicuhy.

Pois-que o índio Morahy, da Nação Tape, aportara no Ibirapuitã em 1801 e em seguidita conhecera Jacyra. Nos tempos em que a Guarda Real e os bandeirantes caçavam indígenas, nascera quem promoveria uma desejada união de Guaranis e Pampeanos: a intrépida Pitanguy. Batizada pelas leis do cristianismo como Lucrécia Bórgia, vem a ser uma das antepassadas indígenas de Dona Fê.

O Morahy dava indicação de uma das procedências dos antepassados d’Essa, da qual se fala — O Rio das Amoras — ocupando hoje, a micro-região de Frederico Westphalen. O gentílico guaranítico adaptou-se à língua portuguesa sob duas formas: com o E (de estrela), como Moraes, ou com a vogal I (de Imperatriz), em Morais.

Nossa Aleretchiense mais a Margarete Moraes, do balenário de Iraí, unem por laços e mililitros de seus sangues, vermelhíssimos, aquilo que o rio Uruguai separara. Juntam-se, uma pelo Sul e a outra, pelo Norte, o ex-estado sul-rio-grandense. Duas metades de uma laranja azeda.

MEU DIÁRIO VIRA NOTÍCIA!!!!!!!!!!
http://www.plantaodacidade.com/Fabiguedes/felicia.htm

quinta-feira, 14 de junho de 2007


QUEM É ELA? QUEM É ELA?

Me perguntaram se Ela é gaúcha. Vamos com calma. Gaucha. Suas origens fincam-se no Plata: naturalmente argentina por gens maternos, e sentimentalmente uruguaia pelas vias paternas, com outras mesclas no meio.

Está na cara que é gaucha, primeiro e gaúcha, depois. Reparem no Seu jeito: trata todo o mundo com o maior respeito, mas se alguém Lhe pisar na barra do vestidinho de gala, o veneno escorre, fel dos brabos, o buchincho está feito!

Perguntaram-me se Ela seria uma fina-flor da sociedade ou nova rica. Se haveria possibilidade de campear as Suas origens, achar felpas das madeiras do Seu berço. E se esse era mesmo de ouro, ou dum que outro metal nobre, até de sangria das baratas.

Demonstrando certa preocupação com prováveis pecados originais, um certo genealogista seguiu a cartografia do rosto d’Ela. Pelos rios que correm nos lábios, quando faz biquinho com a boca, jura o rapaz que é Rochas como o Júlio, fabricante de perfumes e de moda refinada.

terça-feira, 12 de junho de 2007




TIA FELUX ROMPEU

A NOITE PRA VOCÊ





Anjos pornográficos e passistas endemoniados. O paraíso perdido e a preferência nacional. Bumbos que batem-batem e ânus que pum-pum-pum...

Bum-Bum. Paticumbum. Prugurundum. Anos-luz de sanidade mental, ortopédica e das vias intestinais, viram do avesso a história da criação.

No começo do mundo, de acordo com os índios brasileiros, as escolas de samba e o Seu Câmara Cascudo, nunca passavam as tardes e as manhãs.

Dias e dias parados, ao contrário do já sabido, e à espera de quem se habilitasse abrir o caroço do tucumã.

No tal coquinho, guardado pelo Grande Cobra da Amazônia, escondia-se uma esplendorosa dama.

Da Noite, faz questão de dizer o Zola Duarte, era uma donzela. “Revestida de prata na voz do sambista, no show da mulata”.

Tanta luz que nos ofusca não se revela facilmente a reles mortais, já bufando para enfrentar mais um parágrafo.

Imagine recontar uma vida, separar o claro do escuro; a crítica genética, do sagrado Gênesis.

Mostraram-se, pois, incapazes, mil e uma genialidades, de atingirem o brilhante afã desta Revelação.

Todos os seus nomes omitidos, que isto não é Dicionário de Narratologia, gênios, artistas e inventores não provaram, pois, bastante suficiência para concluir:

Faltando energia, pegue uma vela de sete dias, batuque na caixinha de fósforo... Fiat Lux...

— Faz-se a TIA FELUX! Fez-se TUA FELÍX!!

Um tremendo luz-que fusque!!!


Imagem: Pedro Américo - A noite e os gênios do Estudo e do Amor, 1883

domingo, 10 de junho de 2007

MEU CONSELHO PARA VOCÊ VIRAR UMA ESTRELA, PORQUE BELA VOCÊ JÁ É!!!


ERA UMA VEZ,

UM VENTO EMPESTADO...


No princípio, as trevas, a Divina Solidão e o trevo da Vila Favila. Era o caos e o cocô. Musas e solitárias. A poeira das estrelas e uns deuses a olho nu...

Tudo levaria o vento impetuoso dos óculos de sombra e dos anti-sépticos linguais. Chegavam os oio do cu...

Límpidos colírios e desinfetantes literários. O desentupidor nasal em forma de foguete e um detergente do qual não haveria razão alguma por que se duvidar.

Para encobrir as faces da escuridão, conteúdos vazios mais receitas no ponto de como se tornar um Ás da escrita.

E grassam pelo pampa as miraculosas fórmulas de São Luiz do Maranhão e Santo Antônio da Lisboa, São Francisco de Assis e Aparecida do Brasil.

Agora, face ao provável deslumbramento que alguma beleza estonteante nos ponha diante das vistas, aurículas e ventrículos devem-se educar para estarem a bater segundo as necessárias ponderações do poder moderador.

Moderex nas pessoas que são umas pinturas e nos quadros quase-gente ou paisagem, de tão às fronteiras do perfeito. Nem sempre o nu é uma belezura, no entanto, belezinha ou belezoca são beldades. Ninguém seria louco, mal-agradecido, degredado, de negar.

Seja grande ou pequeno, venha da natureza ou das artes, o Belo é mesmo uma beleza. Até santinhos, do paoco e de pau duro, alucinam sob efeitos dum que outro relampejar de roupa íntima, sagrado mistério gozoso.

Nem a Rexona Cotton nem o Moderatto Roll-On podem dar conta das 24 horas intensivas de proteções antiperspirantes que prometem seus anunciantes, quando avistamos bundas bem feitinhas, rígidas e sinuosas. Mil serpentes prontas ao bote. Mil e um perus a ponto de abate.

Curvadas nos balcões, em pé nas filas, nos corredores dos ônibus, ou a cada balouço nas esquinas e ruas por onde andamos, abismos de malícia se insinuam. Recôncavos para lá de escondidos, indecifráveis mistérios gloriosos.


sexta-feira, 8 de junho de 2007

Já estou recebendo homenagens!!!
Me sinto tão lisonjeada com tamanho reconhecimento...

CÉU, TERRA E MAR...

Desde que Spirituals e espíritos alcoólicos cobriam as caras da terra, o Belo vem perturbando corações, mentes e estruturas físicas. Tanto quanto a inteligência, e à mesma proporção de um disparo daquelas manadas de elefantes que se embebedam de ameixinhas da marula. Ah, que isso incomoda, incomoda.

Incomoda muita gente e muito mais do que sonha nossa vã filosofia barata, principalmente quando estamos quase a pegar no sono. Pior, só o baratão voador, encontrado em um saco de bolachas, depois que boa metade delas, crocantes e banhadas em chocolate, havíamos comido no escuro.

Bastante além dos guinchos do irritante sapato de borracha sobre pisos de sinteco, a lindeza perturba. Inclusive a quem faz um feio feliz, pois ama o feioso e lindo lhe parece. Nada de muito estranho.

O Chico Buarque, de tanto amar uma bailarina, achava que a moça era bonita e pôs-se a cantá-la. Charly García morreu de pena do garoto que, acometido de incontrolável paixão por sereias cantoras, entraria num turbilhão de pluma e silêncio, de espumas e de monstros.

Beleza não põe a mesa, mas o que é do homem, bichos não comem. Ainda que quase nunca se possa tocar nas mais belas formosidades do mundo, às vezes, é possível comê-las. Embora com os olhos, apenas.

Ao norte do planeta, canais escandinavos e, do Sul chileno, sua gravura recortada, incandescendo-se a Terra do Fogo, fueguina, fogosa. Quebram gelos na certa, descem cubos redonditos por bocas oceânicas e marítimas.

Água na boca, língua de fora, cachorros e cadelinhas, nós somos o que soma. Por muitas tardes e manhãs, pusemo-nos a devorar o gigante Argos e sua centena de olhos, bem como a mitológica barcarola de nome Argo et cetera et coetera eticéteras...

Embutimos, antropófagos, até cérebros de animais que vêm voejando sob os céus, deslizando nas águas e se multiplicando segundo suas espécies. Não deglutimos miolos humanos, que ninguém achou um jeitinho de transplantar tutano e fazer conserva de massa cinzenta.

Daí Dona Norma e suas regras periódicas proibirem flashes e fotos por em cima das linduras de primeira grandeza das artes plástico-esculturais. Do enrola-desenrola papiro até o rala-rola virtual, protegem-se os originais das cópias e do olho grande.

Das portas de Bizâncio à concessionária de carros do Seu Amâncio, bem amolado esmeril ofusca, bota quebranto. Mais dor de cabeça e indisposição em tempos de Fotoshop. Já pensou numa montagem do Brasil com o Egito: a rainha Nefertite num derriére de Rala-Ralando o Tchan, aê?

quinta-feira, 7 de junho de 2007


DECÁLOGO FELICIANO:

Em virtude de muitas confusões com centros guturais e órgãos culturais pelo mundo afora, faz-se necessário fornecer dez orientações definitivas a respeito de como devem ser lidas estas páginas da minha vida:

1) Eu, Dona Felícia, sou uma sujeita ficcional, mas de humana existência. Tanto, que cheguei a me transformar em amissíssima de todo o grupo de trabalho de meu criador. Quaisquer semelhanças com biografias, blogs, cartões magnéticos, contas bancárias, endereços, fatos, jornais, livros, lugares, nomes, passaportes, perfis, pessoas, revistas ou situações — dos mundos reais, imaginários e virtuais — não passarão de meras coincidências.

2) Como tal, a MEDA não existe; é um reino inventado. Querer compará-la com uma cidade ou nação seria o mesmo que fazer Sucupira equivaler ao Brasil e Macondo, a Aracataca, povoado em que nascera o Gabo.

3) As notas de rodapé, sim, é que podem enviar a situações reais. Contudo, muitas vezes, vêm-se mostrando falsas, o que as torna mais necessárias e verossímeis. Ah, quem as recomendou foi Bartleby, um amigo com quem o biógrafo passava as tardes de domingo no Lokotron da Carrer Marina, em Barcelona. Prescrição confirmada, em sonhos reincidentes, por um cego escritor argentino.

4) Na ficção, tudo é possível. Até prova em contrário. Daí que a MEDA pode ser lida com a terceira vogal média E — aberta, como ameba e Dona Léda — ou com a segunda vogal média. A mesma E, porém, de pronúncia fechada, a exemplo de Lêdo Ivo.

5) Palavras ou expressões entre aspas pertencem a outros.

6) A realidade pode ser mais ficcionalista e ficcionante do que a própria ficção.

7) Minha vida tem um quê de profética; deve ser lida com ajuda de cartomantes, quiromantes e videntes.

8) O CEL[1] da MEDA, assim como sua entidade co-irmã, a Academia Brasileira de Lesmas, rege-se por princípios de corporativismo, exclusão, nepotismo e puro mofo. Por isso, a Felícia quer defender a classe artístico-literária contra atos e pensamentos nefastos, erros e favorecimentos, injustiças e omissões. E que los hay, los hay!

9) Li, recentemente, a obra do franco-prussiano Marcel Rochas, intitulada Dez lições para se Tornar uma Pessoa Melhor. E estou me transformando — para melhor, por supuesto!

10) Quem levou destacado decálogo a sério, jamais poderá ser feliz nem me compreender. Sugiro continuar com suas leituras de auto-ajuda ou gourmets anônimos. E que, assim, vá longe, bem longe...

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[1] Nesse Centro Escriba de Lorotas, bananas de pijama e patronesses em camisola de dormir nada produzem, como em suas fazendas. Mas fazem questã das honrarias, trocadas, segundo o peso, por votos no secretário da curtura: um tal do João Cume D’Or, eterno candidato a tudo, de síndico a senador.