sexta-feira, 8 de junho de 2007

CÉU, TERRA E MAR...

Desde que Spirituals e espíritos alcoólicos cobriam as caras da terra, o Belo vem perturbando corações, mentes e estruturas físicas. Tanto quanto a inteligência, e à mesma proporção de um disparo daquelas manadas de elefantes que se embebedam de ameixinhas da marula. Ah, que isso incomoda, incomoda.

Incomoda muita gente e muito mais do que sonha nossa vã filosofia barata, principalmente quando estamos quase a pegar no sono. Pior, só o baratão voador, encontrado em um saco de bolachas, depois que boa metade delas, crocantes e banhadas em chocolate, havíamos comido no escuro.

Bastante além dos guinchos do irritante sapato de borracha sobre pisos de sinteco, a lindeza perturba. Inclusive a quem faz um feio feliz, pois ama o feioso e lindo lhe parece. Nada de muito estranho.

O Chico Buarque, de tanto amar uma bailarina, achava que a moça era bonita e pôs-se a cantá-la. Charly García morreu de pena do garoto que, acometido de incontrolável paixão por sereias cantoras, entraria num turbilhão de pluma e silêncio, de espumas e de monstros.

Beleza não põe a mesa, mas o que é do homem, bichos não comem. Ainda que quase nunca se possa tocar nas mais belas formosidades do mundo, às vezes, é possível comê-las. Embora com os olhos, apenas.

Ao norte do planeta, canais escandinavos e, do Sul chileno, sua gravura recortada, incandescendo-se a Terra do Fogo, fueguina, fogosa. Quebram gelos na certa, descem cubos redonditos por bocas oceânicas e marítimas.

Água na boca, língua de fora, cachorros e cadelinhas, nós somos o que soma. Por muitas tardes e manhãs, pusemo-nos a devorar o gigante Argos e sua centena de olhos, bem como a mitológica barcarola de nome Argo et cetera et coetera eticéteras...

Embutimos, antropófagos, até cérebros de animais que vêm voejando sob os céus, deslizando nas águas e se multiplicando segundo suas espécies. Não deglutimos miolos humanos, que ninguém achou um jeitinho de transplantar tutano e fazer conserva de massa cinzenta.

Daí Dona Norma e suas regras periódicas proibirem flashes e fotos por em cima das linduras de primeira grandeza das artes plástico-esculturais. Do enrola-desenrola papiro até o rala-rola virtual, protegem-se os originais das cópias e do olho grande.

Das portas de Bizâncio à concessionária de carros do Seu Amâncio, bem amolado esmeril ofusca, bota quebranto. Mais dor de cabeça e indisposição em tempos de Fotoshop. Já pensou numa montagem do Brasil com o Egito: a rainha Nefertite num derriére de Rala-Ralando o Tchan, aê?

Um comentário:

Geraldo Roberto da Silva disse...

Dona Felícia, com todo respeito,a senhora é encantadora! Seu texto é o maior barato!